Trilha é utilizada como área de replantio da mata ciliar

Multiciência 13 dezembro 2016
                                                                        Reportagem: Maria Eduarda (texto) e Lívia Santos (foto)

Dividindo espaço com as construções do Campus III, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), a trilha ecológica José Theodomiro Araújo é um meio de descobrir a importância da mata ciliar para a preservação do rio São Francisco. A trilha tem aproximadamente um quilometro e tem 21 espécies de plantas nativas, que são essenciais para conter a erosão do solo e minimizar o assoreamento das margens do rio.
Entre as espécies, estão a ingazeira, localizada na faixa transitória entre o solo e o rio, cujas raízes servem para proteção, abrigo e alimentação dos peixes; a lantana com potencial para o paisagismo e plantas medicinais como o pau-ferro e a aroeira.
Ingazeira. Foto: Lívia Santos

Para identificar essas espécies nativas, a professora e pesquisadora do Departamento de Tecnologias e Ciências Sociais (DTCS), da UNEB, Maria Herbênia Cruz realiza um trabalho de mapeamento, seleção e coleta de flores e sementes, através do projeto de pesquisa  Produção de plantas nativas para recomposição da mata ciliar no Submédio São Francisco.

Nesse trabalho, que conta com o auxílio de estudantes de Engenharia Agronômica e da servidora Lucília, as sementes são recolhidas do ambiente natural para serem analisadas no laboratório do Herbário da Embrapa Semiárido. As sementes que apresentam boa germinação são utilizadas para produzir novas mudas em viveiro, já que são espécies encontradas apenas nas margens do rio São Francisco. “A mata ciliar está para o rio, como os cílios para os nossos olhos. Elas mantêm as margens protegidas de fatores como erosão e do assoreamento que têm levado, cada vez mais, resíduos e areia para dentro do rio”, explica a pesquisadora.
Sementes de Pau-Ferro. Foto: Lívia Santos

Atualmente, é feito replantio das mudas em áreas de comunidades ribeirinhas e na trilha ecológica que sofre constantemente com a retirada indevida de plantas nativas e queimadas. Maria Herbênia explica ainda que, mesmo em áreas que ocorreram incêndios, plantas - como a ingazeira - possuem grande capacidade de regeneração, muitas delas brotando a partir das sementes que caíram no solo e das raízes que resistiram ao fogo. Confira no video

Plantio de mudas. Foto: Livia Santos

Apesar da pequena extensão, a trilha ecológica representa um importante ecossistema entre o rio e as espécies da caatinga que convivem de forma integrada, como as plantas nativas, aroeira, baraúnas, cactáceas e bromélias encontradas ao longo da trilha e que resistem à degradação externa provocada pelo homem e pela presença de plantas invasoras como algarobas e Nim. 
Feijão Brabo. Foto: Livia Santos



Conheça as Plantas Nativas

As 21 espécies da mata ciliar encontrada na trilha ecológica colaboram para preservar o ecossistema, evitando a erosão do solo, como atestam pesquisas com as mudas das plantas realizadas pela professora Maria Herbênia Lima Cruz, em desenvolvimento no DTCS/UNEB. 
Contudo, essas plantas também são conhecidas pela população que faz uso medicinal de algumas delas. Conheça algumas propriedades dessas plantas nativas. 
Pesquisa e texto: Mônica Santos

Angico (Anadenanthera colubrina) - Utilizada na construção civil e tem propriedades medicinais, prevenindo problemas respiratórios, como asma, tosse, bronquite, gripes, resfriados e inflamações como a faringite, e diarreia, disenteria e raquitismo.

Aroeira-do-sertão (Myracridruon urundeuva): A madeira é usada na construção civil e ornamentação. A sabedoria popular atribui propriedades medicinas no tratamento de fraqueza muscular, distensão de tendões, artrite e fraqueza dos órgãos digestivos, reumatismo e tumores linfáticos. Suas folhas são usadas para tratar úlceras, já sua casca tem efeito adstringente, utilizada contra hemoptises e diarreia, além disso, serve para tratar inflamações ciáticas, gota e reumatismo.

Braúna ( Schinopsis brasiliensis)  Usada para fins medicinais pelos índios Kariri-xoco e xoco, a sua casca triturada e cozida serve para aliviar dores de dentes, o chá de sua casca alivia dores de ouvido, já seus brotos, quando macerados em álcool, tem propriedade anti-histéricas.

Cambará (Lantana camará) Além de sua capacidade ornamental, tem efeito no tratamento de dores abdominais e pode ser usado para baixar febre, tratar dores de ouvido, coqueluche, além de expectorante, infecções e alergias respiratórias.

Feijão bravo (Caparis cynophallophora L; Caparis flexuosa). Quando inalado, ajuda no combate a sinusite, além disso, segundo a crença popular, é possível tratar picadas de cobra quando suas cascas são raspadas e deixadas em água 

Ingazeio (Inga vera subsp. affinis (DC.) T.D. Penn.) Tem propriedades adstringentes, antiartríticas, antirreumáticas e desintéricas. Além disso, o ingá, fruto do ingazeiro combate dores de cabeça e dores em geral, diarreia e diminui problemas intestinais

Ipê amarelo (Tabebuia alba) - Sua casca e folha são utilizadas para infecções como amidalites, estomatites, infecções renais e dermatites,  varizes, coceiras e eczemas, também são conhecidas para prevenção de infecções, diarreias, tumores, além de analgésicas e cicatrizantes. A raíz é utilizada contra gripe e seus brotos utilizados como antisseptico. As flores picadas combate inflamações na gengiva e na garganta.

Jatobá (Hymenaea courbaril) O chá de jatobá colabora para o fortalecimento do sistema imunológico, é eficaz no tratamento de infecções provocadas por fungos, ação anti-inflamatória e alivia problemas nas articulações e respiratórios.

Juazeiro (Ziziphus joazeiro) Indicada para tratar caspa, gengivite, febre, má digestão, dores estomacais, placa bacteriana, vias urinárias e queda de cabelo. Porém, contraindicada para uso pediátrico e durante a gestação e amamentação, por conter saponina, substância que em grande quantidade é toxica. 

Juazeirinho (Ziziphus cotinifolia) - planta nativa.

Jurema (Mimosa tenuiflora) É utilizada para fins medicinais e religiosos. Serve como defumados, no combate a dor de dente, de doenças sexualmente transmíssiveis, no tratamento de insônia, dos nervos e de dores de cabeça. Nas religiões de matriz africana tem muita importância, suas folhas são usadas em banhos e para fazer rezas.

Macambira (Bromelia laciniosa) Utilizada para cobrir telhados e em tempos de seca, servia como alimento, de sua fibra se faz farinha e pão ricos em proteínas, e com o farelo do caule os sertanejos alimentam os seus animais, podendo ser utilizada todas as suas partes, essa bromélia é um grande aliado dos sertanejos em tempos de escassez.

Marizeiro (Geoffroea spinosa) Seus frutos são comestíveis, além de retirar deles uma massa que serve como vermífuga, já suas folhas servem de ração para gado e o chá funciona como antidiarreico e emenagogo

Mulungu (Erythrina velutina) Estudos mostram que esta planta possui propriedade sedativas, ansiolíticas, ou seja, calmantes,  e age também na prevenção e tratamento de convulsões

Muquém (Albizia inundata)

Paineira – barriguda (Ceiba speciosa) Considerada uma das árvores mais lindas do mundo, a paineira ou barriguda, é utilizada no tratamento de hernias, ínguas e queimaduras, a partir do cozimento de sua rezina e de sua casca, fazendo-se um emplasto. 

Pau-ferro (Libidia  férrea) Suas folhas vem sendo utilizadas no tratamento de ulceras gástricas, já sua casca serve para tratar problemas, como  diabetes, problemas nas amidalas, cólica intestinal, diarreia, gota, hemorragias, reumatismo, sífilis, tosse, hemorroidas, complicações cardíacas, febre, afecções pulmonares e fraqueza em geral  

Pinhão bravo (Jatropha mollíssima) Possui efeito antimicrobiano e cicatrizante. Pode ser utilizada como planta ornamental, e a partir do óleo extraído de sua semente pode-se fazer tintas e sabão, além ser importante no combate a aerosão do solo e para a polinização.