Na educação, a música e o aprendizado caminham juntos

. 25 abril 2012
Escolas mostram que ensinar pela música é possível e gera, entre outras coisas, interação, socialização e diversão. A obrigatoriedade do ensino de música, instituída por lei, tornou formal o que já deveria acontecer há muito tempo. Com isso, a capacitação de profissionais na área vai ficar cada dia mais necessária.


Por: Anna Charlotte Reis



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úsica é coisa que todo mundo gosta, que todo mundo ouve. Para muita gente, ficar sem ouvir música por muito tempo não dá. A música relaxa, dinamiza e pode também ensinar. Com isso, especialistas e professores de música têm percebido a necessidade de uma iniciação musical nas escolas. Hoje, muitas escolas públicas e particulares já desenvolvem trabalhos pedagógicos, que visam à valorização da musicalidade, desde as séries iniciais.

 A capacitação específica do profissional de música ainda não é uma realidade geral na região do Vale do São Francisco. A Lei Federal de nº 11.769, instituída em agosto de 2008, diz que toda escola com Educação Infantil e Ensino Fundamental tem obrigação de oferecer aulas de música em sua grade. No entanto, o mercado ainda não dispõe de profissionais suficientes.

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - IF Sertão Pernambuco (IF Sertão-PE), de Petrolina, saiu à frente na iniciativa de oferecer o curso superior de licenciatura em música. Em janeiro de 2012, foi aberta a seleção para o primeiro vestibular do curso com apenas uma entrada por ano e turmas de 30 alunos.

Tratando-se do primeiro curso na área da região do Vale do São Francisco, o avanço é considerável e deverá levar a um crescimento significativo do mercado de trabalho. Segundo Ozenir Luciano, professor de música do IF Sertão-PE, é um privilégio trabalhar em uma instituição que oferece educação em música, pois influencia e muito no crescimento da região.

Além de contar com o curso superior, a instituição realiza projetos pioneiros na área musical, que atendem tanto alunos do próprio instituto, como também jovens das comunidades circunvizinhas, como é o caso da orquestra Opus 68, que desde 2008 vem promovendo a iniciação musical de alunos do próprio instituto e de regiões circunvizinhas. O trabalho é realizado pelo professor Osenir e conta com a participação de cerca de 50 jovens. A orquestra ensaia semanalmente e apresenta constantemente seu trabalho em eventos da região.

Quando se trata de projetos envolvendo a educação musical, muitas escolas na região já haviam tomado essa iniciativa, antes mesmo da aprovação da lei que instituiu a obrigatoriedade do seu ensino. É o caso da Escola Municipal de Ensino Infantil Jandira Borges, em Juazeiro, que realiza desde 2009 o projeto “Musicalização na educação infantil”.

Criado pela secretaria municipal de Educação de Juazeiro, o projeto tem a função de estimular as crianças, através da percepção dos sons, por meio da linguagem musical. “É um projeto que cada escola dá a sua cara. É o cotidiano da criança, trabalhar os sons. A música perpassa tudo, todos os momentos da Educação Infantil, desde a acolhida até a hora do banho”, afirma Miranery Amorim, diretora de Educação Infantil da secretaria.

 Na escola Municipal Jandira Borges quem dá forma a esse projeto é a professora Sandra Alves dos Santos, que fala da experiência de trabalhar com a musicalização na sala de aula. Para ela, não existe nem comparação com a aula comum, onde o professor só expõe o assunto. “O beneficio é tanto na linguagem oral, escrita, quanto na dicção”, diz Sandra.

Para Kátia Maria Pinheiro dos Santos, coordenadora pedagógica da escola, é indispensável que o projeto continue a gerar bons resultados e que ele se torne um hábito, uma cultura permanente no ambiente escolar. Portanto, a grande questão da atualidade é pensar na música de forma interdisciplinar. 

Essa preocupação com a inserção da música nas aulas já é uma preocupação geral. O colégio Diocesano Dom Bosco, em Petrolina, é um exemplo de como a prática tem sido bem utilizada. Além de ter regularmente a disciplina em sua grade na Educação Infantil, a escola vem desenvolvendo projetos significativos na área.

Esse ano, o Dom Bosco está desenvolvendo um projeto que homenageia o centenário de Luiz Gonzaga e com isso os alunos participam de diversas atividades relacionadas às músicas do cantor. “É um projeto da escola, que os alunos trabalham com as letras das músicas e isso é riquíssimo para eles, pois além de trabalharem a questão da língua, estão tendo contato com a cultura regional. Os pais ficam encantados com esse trabalho, pois Luiz Gonzaga faz parte da história de muitos deles”, explica Eliete Maia, psicopedagoga e coordenadora do Ensino Fundamental da escola.

As escolas, ao mudarem seus currículos e metodologias de ensino, viram-se na incumbência de inserir o cotidiano dos alunos em suas aulas, percebendo então o quanto a música é importante para a formação humanística e cultural dos estudantes. “Um aluno que estuda música não se torna apenas um tocador, ele se disciplina, se torna uma pessoa mais concentrada, além de se intelectualizar ao estudar música e repertório”, enfatiza Ozenir Luciano, do IF Sertão-PE.

Para a psicopedagogia, a música não é só um elemento a se acrescentar às aulas, mas indispensável à formação do indivíduo, desde a primeira infância até a vida adulta. “A música se insere nos elementos da aprendizagem, memória, motivação”, afirma Eliete. Tudo isso não seria possível sem um bom planejamento e organização, que parte da escola e do professor. Segundo Eliete, as atividades musicais propostas nunca devem ser aleatórias, pois não levariam a nada, apenas diversão. Quando na verdade o que se propõe ao trazê-las para sala de aula é que o aluno aprenda com o lúdico.

Os pais sentem que seus filhos aprendem e, ao mesmo tempo, valorizam as músicas que fazem parte da cultura popular. Assim, além de apoiar o trabalho dos filhos, alguns participam ativamente desse processo. Maria do Carmo Silva é mãe de Caio, de 3 anos, e acredita que a iniciativa é mais que bem-vinda. “Agora vejo meu filho escutando coisas que antes ele criticava e achava ridículo. Fico muito feliz ao saber que ele não vai ser mais um desses jovens que ouvem as músicas sem refletir sobre as letras”, comemora.